Levantamento
inédito realizado pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revela valores mais
precisos da incidência de raios no país. Nos últimos seis anos, o número
médio anual de raios no Brasil foi de 77,8 milhões. Este valor é bem
superior ao obtido no levantamento realizado em 2002, que apontava cerca
de 55 milhões de raios.
A diferença é atribuída às limitações do levantamento anterior feito com
base em dados de satélites que apresentavam restrições devido à
amostragem temporal (os satélites não eram geoestacionários), eficiência
de detecção (dependente do tipo de tempestade) e discriminação entre as
descargas que atingem o solo (raios) e aquelas que ficam dentro das
nuvens. O novo levantamento foi obtido por meio da rede BrasilDATDataset
que integra diferentes tecnologias de detecção de raios em superfície e
permite identificar os raios com maior precisão.
Os novos dados apontam que 2012 registrou o número máximo de raios em
todo o período analisado: 94,3 milhões. A justificativa está no aumento
acentuado de raios na região norte relacionado ao evento La Niña
observado naquele ano. Após 2012, um decréscimo quase que constante é
visto ao longo do período. Em 2013 foram 92 milhões, em 2014 foram 62,9
milhões e em 2015 foram 68,6 milhões de raios, ano em que um acréscimo é
observado devido ao registro do evento intenso El Niño, responsável
pelo aumento acentuado dos raios nas regiões sul e parte das regiões
sudeste e centro-oeste.
A quantidade de raios identificada indica que os fenômenos El Niño e La
Niña modulam a ocorrência de raios no Brasil numa intensidade muito
acima do que poderia ser esperado em consequência do aquecimento global.
“O novo ranking permite ter-se
números mais precisos sobre a ocorrência de raios no país e suas
variações anuais, o que permite identificar quais fenômenos são
responsáveis por estas variações, além de permitir, em longo prazo,
acompanhar os efeitos das mudanças climáticas sobre a incidência de
raios em nosso país”, comenta Dr. Osmar Pinto Junior, coordenador do
ELAT.
Outro dado relevante mostra que no levantamento anterior o número de
raios na região norte foi subestimado. Como exemplo, o estado do
Amazonas, que no primeiro levantamento apresentou a média de 11 milhões
de raios por ano, passa a ter, atualmente, uma média de aproximadamente de 15,8 milhões de raios por ano
A nova rede BrasilDATDataset além de detectar cerca de 99% das
tempestades que ocorrem no país, tem uma base de dados de raios que
permite esclarecer a causa da maior parte dos eventos associados aos
raios, que anteriormente muitas vezes não tinham uma explicação
satisfatória, tais como, danos patrimoniais em que não há vestígio da
ocorrência de raios, mortes de pessoas sozinhas no meio rural cuja causa
suspeita é um infarto, entre outros.
A rede também permite aperfeiçoar as ferramentas de alerta para a
proteção de vidas, considerando que no Brasil em média 300 pessoas por
ano são atingidas por raios, das quais cerca de 100 morrem. O número,
embora tenha reduzido nos últimos anos, em partes, devido à redução no
número de raios, ainda é muito alto comparado a países desenvolvidos.
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